30 de jan. de 2011

Cruzando a linha de chegada


Alívio. Surpresa. Alegria. Sensação de dever cumprido, de alma lavada. E vou detalhar o por quê. Surpreendentemente passei na UFPE e na UPE no mesmo curso. Eis a minha maratona:

- Agosto de 2010: ainda cursando Arquitetura e Urbanismo na UFPE, resolvi fazer a matrícula para o QUINTO período, mas não em todas as cadeiras,afinal,já estava muito balançada com a perspectiva de mudança de curso e já havia feito as inscrições para o ENEM  e vestibulares das universidades públicas daqui.

Faltei as duas primeiras semanas de aula porque simplesmente não conseguia levantar da cama para ir para a faculdade, só a sensação de ter que ir praquele lugar me deixava torturada. Só consegui ir dois dias para a aula,e mal parei na sala;ficava vagando pelos corredores,dormindo na sala,ou chorando fora dela.Foram dois dias decisivos.

Prestes a acabar o prazo para trancamento de matrícula,modificação e outras coisas (extamente no último dia) eis que surge um anjo (minha mãe) e me dá o empurrãozinho e a coragem que faltavam para eu parar,ou seja,ela disse que não queria mais ver a filha dela se matando por algo que ela não queria e que de forma alguma essa filha deveria se sentir forçada a alguma coisa.

Pra mim foi o caos aquela noite de sábado(já havia passado metade do mês e eu nesse dilema); o sentimento de frustração e de derrota eram maiores do que qualquer coisa naquele momento.Parecia que tudo o que eu havia feito tinha ido por água abaixo.Foi uma tristeza imensa,ainda mais porque eu tava no ápice da minha recaída,então qualquer coisa era suficiente pra me deixar ainda mais fraca.Mas consegui trancar o período (ainda bem que na minha faculdade isso pode ser feito pela internet mesmo).

Passei mais ou menos uns 15 dias assimilando tudo isso e tentando voltar pra realidade;parecia que eu tava em outra dimensão,ou melhor,num sonho muito ruim lutando desesperadamente pra acordar.Até vergonha eu senti,foi tudo péssimo,gosto nem de lembrar.

Só no finzinho do mês foi que eu acordei um pouco e comecei a procurar cursinho pré-vestibular ou matérias isoladas,já que a perspectiva de ficar em casa estudando era absurda;eu precisava de um incentivo.Assim,achei umas isoladas legais e me matriculei,achei melhor do que a loucura dos cursinhos daqui;é muita propaganda pra pouca qualidade.Como o ano letivo já estava muito avançado,só consegui fazer a matrícula num intensivo de química e física,pra "começar",ocupando 3 tardes da minha semana,já que ainda ficaria no estágio até o fim do ano (sim,eu gosto de complicações na minha vida,mas o dinheiro ajudou a pagar as isoladas).

Nos dias que sobraram eu parava pra ler alguma coisa de biologia,fazer exercícios dados nas aulas de química e física e tentar revisar os assuntos,nada com tanta intensidade,ainda não me sentia uma vestibulanda normal.Ah sim,tentei focar nessas três matérias porque foram minhas específicas no vestibular,sim eu mudei da água pro vinho!De Humanas pra Saúde,áreas que sempre me deixaram na dúvida...

Setembro de 2010: E rapidamente faltaram dois meses para o ENEM. O clima do curso de matérias isoladas começou a me fazer bem, estranhamente eu gostava de ir para lá, fiz logo amizade com uma pessoal super especial, e a gente se apoiou muito. Foi incrível o fato de eu curtir as aulas de química e física, fiquei espantada com isso!Espantada e motivada ao mesmo tempo.

Aos poucos a realidade foi tomando conta de mim e a aceitação foi tomando o lugar da angústia,da dúvida e do sentimento de culpa tão grandes. E fui entrando mais no clima do vestibular, já havia esquecido um pouco como era,afinal meu último vestibular tinha ocorrido há três anos.Foi um mês de transição para mim, só não foi uma transição mais tranquila por conta da piora progressiva de vovó,ou seja,aqui em casa todo o apoio e força foram voltados para ela,lógico,e naturalmente deixei de lado a preocupação com os estudos inúmeras vezes.

Outubro de 2010: Começo da contagem regressiva,correria,revisão em cima de revisão.Aproveitei esse clima e me matriculei na revisão de história,precisava relembrar qualquer assunto de Humanas que fosse.Era coisa rápida,todo sábado à tarde estava eu na resolução de questões,ouvindo breve explanação dos assuntos e anotando tudo que dava.Foi de grande ajuda essa revisão,achava que não sabia mais história.

ENEM batendo na porta e eu estudando de fato apenas 4 matérias;infelizmente não tinha disposição nem ânimo para aumentar o ritmo ou a quantidade de conteúdo. Vovó foi piorando cada vez mais e eu fiquei cada vez mais sem tempo de viajar para visitá-la. Ela começou a esquecer da minha existência e isso me enfraqueceu muito; ela sempre me deu muita força em tudo. Mas,principalmente por ela,fui seguindo,vivendo um dia bom,outro nem tanto.

Chegou meu aniversário e tive momentos alegres que me fizeram escapar um pouco do stress que tava me rondando.Mas confesso que esse stress era bem melhor do que o stress de estar na faculdade de Arquitetura praticamente me matando. Era a possibilidade de renovação que me fazia levantar da cama todos os dias,ir pro estágio de uma coisa que eu não tava mais suportando ver,prestar atenção nas aulas,praticar um pouco,enfim.E o mês passou voando.

- Novembro de 2010: O mês do esperado ENEM, utilizado como primeira fase de provas da UFPE, e temida UPE,com provas independentes. Já nem preciso dizer que a correria foi grande, e entrei de cabeça nela. Mesmo sem poder usar lápis,borracha e relógio, consegui passar pela primeira etapa dos vestibulares de 2010,o famoso e criticado Exame Nacional do Ensino Médio,que,sinceramente,é tudo,menos esse nome.

Não existe fazer uma prova de 90 questões com textos imensos em 5 horas,ainda mais quando se tem uma redação pra fazer,mesmo adicionando uma hora a mais,não rola fazer uma prova exaustiva de Português,outra de Matemática e de quebra uma redaçãozinha de até 30 linhas. Ora,por que os organizadores dessa birosca não sentam numa cadeira,pegam essas provinhas e tentam fazer TODAS AS QUESTÕES conscientemente e com o máximo nível de concentração num espaço de tempo absurdo?Por favor,no segundo dia de provas,não tive tempo nem pra tomar água,meu pescoço passou tanto tempo sem levantar que ficou rígido.Se você tinha alguma dúvida em relação à resposta daquela questão,problema seu;ou você responde certo,ou chuta,ou erra,porque simplesmente não dá tempo de voltar pra questão e pensar mais um pouco. Fiquei revoltada com o ENEM sim;poderia ter tirado uma nota muito melhor e ter a chance de me dar bem no tal SiSU,mas vou deixar de ser idiota e parar de reclamar de barriga cheia.

Exatamente na segunda-feira,um dia após passadas essas provas,estava na aula de física discutindo sobre as mesmas com professor quando recebo por telefone a notícia de que vovó partira. Daí vocês já devem saber o que eu passei, e os estudos ficaram de lado por mais ou menos 15 dias, praticamente em cima das provas da UPE. Nessa altura não tava nem mais aí pra UPE, só pedia força pra vovó pra pelo menos conseguir fazer as provas.

As provas da UPE possuem conteúdos totalmente tradicionais em relação ao ENEM, além de possuírem provas específicas bem difíceis,logicamente pra quem não se prepara bem,como foi o meu caso. Cansada com as provas anteriores,com toda a tristeza e o luto, e aflita com as revisões da UPE, sigo o mês de novembro meio enlouquecida e meio entorpecida na resolução de questões,dando uma olhada aqui e outra ali,nunca achando suficiente de fato. Só o que queria naquelas horas era força.

Elas aconteceram nos dias 28,29 e 30 de novembro,cada dia mais cansativo e difícil do que o outro. No último dia de provas,saí arrasada, sem esperança alguma, pensando que queria demais de uma pessoa que não estudava assuntos de ensino médio há mais de três anos ter algum resultado satisfatório. Deixei passar e fui para o mês de dezembro e para a segunda fase da UFPE.

- Dezembro de 2010: Passada mais uma maratona,sigo já na preparação final para as provas da segunda fase da UFPE,que foram logo no começo do mês. Fiz as provas de português, não tão difícil, física,química e biologia. Como já tinha feito o intensivo de química e física, preocupei-me com o fato de não ter-me preparado para biologia.Apesar de gostar muito da matéria,só dei umas lidas em alguns assuntos preferidos em casa e fiz uma revisão super rápida no cursinho,que consistia na explicação rápida de alguns assuntos e na resolução de questões.

Passadas as provas,uma sensação de descanso misturada com apreensão atingiu-me em cheio,minhas esperanças estavan praticamente nulas de se obter algum resultado positivo,mas tentei preparar-me para o pior,se bem que uma coisa é você tentar colocar na sua cabeça que o pior pode acontecer e outra bem diferente é ter de lidar com essa coisa quanto de fato ela acontece.A confirmação é o que mais doi.

Férias,último mês no estágio,confraternizações e amigos secretos a parte,eis que é divulgado o listão da UPE. Já fiquei com aquela coisa ruim na cabeça,mesmo assim fui conferir.Meu nome não estava lá e a confirmação da coisa ruim aconteceu. Eu sabia,tinha plena consciência de que não tinha muitas condições de passar direto assim depois de tanto tempo sem estudar e diante das circunstâncias pelas quais eu passei no semestre,mas eu sempre cobrei e continuo cobrando muito de mim mesma,tanto que às vezes chega a me fazer mal...

Como estava no estágio e não olhei as coisas com calma,já que estava escondida fazendo isso,quando fui pra casa entrei no sistema da Universidade vi que tinha conseguido ficar no REMANEJAMENTO,que é como uma lista de espera por ordem de notas,caso as vagas do curso não sejam totalmente preenchidas após a matrícula dos que foram aprovados de primeira.Fiquei animada quando vi que estava numa boa posição para entrar (4ª para a segunda entrada em agosto e 18ª pra primeira,em fevereiro),todo mundo começou a me dar parabéns,afirmando que eu ia conseguir entrar,mas como o pessimismo sempre me domina nessas ocasiões,preferi ficar na minha. Natal,ano novo e blábláblá,chegou 2011 (ainda bem!).

- Janeiro de 2011: Finalmente livre do estágio,de férias totalmente. Fui pra praia,relaxei,foi divertido,deu pra esquecer um pouco de tudo. Como o listão da UFPE estava previsto para sair até o dia 31 deste mês e o primeiro remanejamento da UPE exatamente no dia 24,pude passar a metade do mês um pouco desligada da expectativa dos vestibulares.

Entretanto,quando volto de um fim de semana na praia de Tamandaré,no dia 17 de janeiro, leio a notícia de que o listão da Federal sairia na sexta-feira,dia 21 de janeiro.Foi um Deus nos acuda,fiquei ansiosíssima assim que li a notícia,e ainda por cima estava passando a semana sozinha em casa,todo mundo aqui em casa estava no interior e eu tive que ficar aqui pra ver a bomba,se bem que depois achei melhor,caso o resultado fosse ruim não teria ninguém no meu pé dando aquele velho discurso: "Você vai passar na próxima,vai ter o ano todo pra estudar,3 meses é pouco tempo pra se preparar e tal..." isso pra mim seria pior do que não ver meu nome no listão.

E chegou a tão esperada sexta-feira. Passei a noite inteira sonhando com o resultado,pulava de um sonho para o outro e o "tema" era sempre o mesmo. O dia estava chovendo,acordei cedo,mas acabei dormindo de novo por conta do friozinho bom que estava fazendo em pleno verão pernambucano.

Eram pouco mais de onze horas, horário definido para divulgação da lista de aprovados, quando fui acordada pela ligação da minha amiga perguntando se eu já tinha visto o resultado.Disse que não,que estava cedo ainda,que só ia ser divulgado de onze horas, e ela simplesmente diz: "Mas já são onze horas,Carla...".Praticamente desliguei o telefone na cara dela,pulei da cama, liguei o computador na maior agonia e desliguei o celular para não receber notícia boa ou ruim de ninguém. Consegui abrir algum site?Claro que não!Todos os sites que eu conhecia para ver o listão estavam congestionados demais para abrir,só pra aumentar ainda mais a minha ansiedade.

Passava das 11:10 quando finalmente abri um site de um jornal local para ver o listão. Era só digitar seu nome ou número de identidade que aparecia apenas o seu resultado. Digitei os dados,apertei ENTER e fechei os olhos. Quando abri,apareceu meu nome e curso para o qual tinha-me candidatado,mas o resultado aparecia após clicar em uma seta,para afligir ainda mais a minha pessoa.Enfim,cliquei na seta,fechei os olhos de novo e quando abri,não vi mais nada,só o nome: CLASSIFICADO. Na hora comecei a chorar feito um bebê,parece que um filme de todo o ano de 2010,principalmente a segunda metade dele,passou pela minha cabeça na hora,foi uma sensação de dever cumprido como há muito tempo não sentia.

Liguei de imediato para a minha mãe que se assustou com minha voz de choro,achando que tinha acontecido algo de ruim. Ficou tão feliz ela,chorou junto comigo,disse que sabia que eu passar,que queria estar perto de mim naquele momento,e eu não parava de chorar,só escutando as palavras lindas que ela me dizia e sentindo-me feliz pelo fato de tê-la feito feliz naquele 21 de janeiro.

A partir daí, os telefones não pararam de tocar,tanto o da minha residência quanto o meu celular. Falava com duas amigas ao mesmo tempo,via recados e twittadas,mensagens e afins dos amigos e da família,chorando,rindo e agradecendo ao mesmo tempo. Depois de toda essa euforia,já passava das 15:00 e ainda não tinha comido nem bebido nada durante o dia todo,e ainda estava de pijama.Quando finalmente cessaram as ligações e organizações para a comemoração,fui tratar de tomar um belo banho e comer alguma coisa.

De noite,foi só comemoração.Reuni o pessoal no prédio de uma amiga e fizemos uma farrinha. E não deu pra fugir: lá pelas tantas da madrugada, meus amigos me imobilizaram e rasparam minha sobracelha esquerda quase toda.É tradição de aprovado no vestibular raspar a cabeça quando é homem e a sobrancelha quando mulher,mas geralmente as meninas colocam o band-aid sem precisar raspar e tá tudo certo,mas meus amigos quiseram seguir a tradição à risca e por mais que eu tenha corrido,havia umas 10 pessoas contra mim.

Pra completar minha alegria,na segunda-feira,dia 24 de janeiro,saiu o resultado do primeiro remanejanto da Universidade de Pernambuco,UPE, e eu consegui entrar.Fui fera UPE e UFPE!Minha família já estava de volta aqui em casa e todos expressaram o orgulho que sentiram de mim,mainha como sempre emotiva,mas todos alegres.

Mesmo não tendo a capacidade de acreditar em mim,eu consegui passar nas duas e só tenho a comemorar com isso,pois o ano que passou não foi nada fácil e só de chegar aonde cheguei prova que a queda pode ser dura,o fundo do poço mais ainda,mas eu posso levantar e dar uma virada nisso tudo;eu só tenho que trabalhar e acreditar mais nas coisas e em mim mesma,minha maior inimiga,mas o tratamento tá aí pra isso.

Penso muito nas pessoas as quais me ajudaram e me aguentaram; elas não deixaram de acreditar em mim,foram meus braços e pernas quando não queria levantar e sei que elas foram e continuam sendo fundamentais em todo o processo, sou eternamente grata a cada uma delas.

Penso demais também na única pessoa da minha lista de especiais que não ligou para me parabenizar no dia da aprovação,mas que ouviu e atendeu meus pedidos de ajuda;até mesmo antes de fazer cada prova eu falei com ela.Vovó,dedico esse momento pra senhora,meu porto seguro,meu apoio incondicional,minha maior saudade.Queria muito você aqui agora.

Ah sim,nem falei o curso que eu passei: ODONTOLOGIA. Que mudança,não?

10 de jan. de 2011

E a saudade só aumenta...


"Já imaginou como as coisas seriam se você não fosse mais você mesmo?
Se de repente você sumisse,como o mundo reagiria?
Seja lá o que você imaginava, saiu errado;
Não há nada de romântico na morte.

O luto é como o oceano:
Profundo, sombrio e maior do que todos nós.
E a dor é como um ladrão no meio da noite:
Silenciosa, persistente, injusta.
Diminuída pelo tempo, pela fé e pelo o amor..."


Sem condições de dizer algo mais hoje.